O PRIMEIRO PASSO PARA COMBATER O TRABALHO ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO É RECONHECER QUE ELE AINDA É UM PROBLEMA.
Jornadas de trabalho extenuantes, condições precárias, desrespeito à vida: a lista de situações que caracterizam o trabalho análogo à escravidão poderia ser muito mais longa do que esta. E, infelizmente, essa é uma realidade ainda encontrada Brasil afora, tanto em áreas rurais quanto urbanas – e com exemplos específicos no setor da moda.
Por isso, o dia 28 de janeiro é dedicado nacionalmente ao combate ao trabalho escravo no Brasil. A data foi decidida a partir de um triste evento ocorrido em 2004, quando uma equipe que atuava na inspeção para apurar denúncias de trabalho escravo em Minas Gerais foi assassinada em Unaí, cidade localizada no noroeste do estado. Instituída pela a Lei 12.064/2009, a data tem como objetivo rememorar a história de luta contra a exploração humana.
No Colabora Moda Sustentável, o combate ao trabalho análogo ao escravo é um tema crucial e que integra nosso eixo estruturante de Trabalho e Equidade. Algumas iniciativas geradas em nosso ecossistema passam por criar soluções e ampliar a consciência das pessoas sobre este problema histórico. Outras, como Tramando Junt@s e Tecendo Sonhos, buscam oferecer capacitações e suporte para trabalhadoras e trabalhadores encontrarem caminhos para sair de situações de vulnerabilidade social e conquistarem uma vida mais digna.
A questão racial no enfrentamento ao trabalho análogo à escravidão
Em um país cuja economia se baseou na escravidão por 388 anos, e que até hoje convive com os efeitos de um processo abolicionista que não concedeu suporte mínimo às pessoas e à sociedade, o trabalho escravo contemporâneo tem como vítimas, principalmente, pessoas negras, com baixa escolaridade e em situação de extrema pobreza.
Em um dos encontros realizados com Colaborantes, revisamos pesquisas que apresentam dados ligados às condições de trabalho na moda brasileira. Nossos convidados especialistas mostraram que os recortes de raça e gênero determinam inúmeras e graves diferenças entre quem faz a moda do país. As falas, gravadas em 2021, podem ser revisitadas em nosso canal de Youtube – e, infelizmente, seguem profundamente atuais. Confira abaixo alguns destaques:
“A base dos nossos desafios está nas discriminações estruturantes da nossa sociedade, que não podem ser consideradas meras fatalidades. Elas precisam ser removidas para que se instale um projeto de igualdade.”
Patrícia Lima, Instituto Trabalho Decente
“Os setores público e privado precisam inserir na agenda de direitos humanos indicadores que vão além da legislação.”
Gustavo Narciso, Instituto C&A
“Assumir um compromisso político público de respeito aos direitos humanos é muito importante, mas nem sempre reflete uma ação prática da empresa. Precisamos estar atentos.”
Rafaella Coutinho Monesi, FGV – Centro de Direitos Humanos e Empresas
Nas palavras do então moderador Gustavo Narciso, as soluções para a desigualdade na moda são complexas e devem ser construídas de forma colaborativa. O primeiro passo para qualquer mudança, como lembrou Patrícia Lima, é tomar consciência dos problemas.
A moda brasileira, para ser regenerativa, precisa agir com intenção na reconstrução do tecido social, que inclui olhar para as pessoas e a sua interação com o ambiente em todos os níveis e conexões da sua rede produtiva. Cada empresa e organização é co-responsável pela mudança na moda em prol de um sistema que valorize, cuide, faça prosperar e repare os eventuais danos causados às pessoas e ao meio ambiente.
Conheça alguns das organizações Colaborantes que atuam nessa agenda:
Aliança Empreendedora
Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT)
Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX)
Centro de Apoio Pastoral do Migrante (CAMI)
Fashion Revolution Brasil
FGV – Centro de Direitos Humanos e Empresas
Confederação Nacional dos Trabalhadores/as do Ramo Vestuário da CUT
Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo (InPacto)
Instituto Trabalho Decente
Organização Internacional do Trabalho (OIT): Escritório no Brasil